sexta-feira, agosto 25, 2006

Jaguar e o Pasquim

A palestra aconteceu no salão Primavera e mediada por Marta Batalha, diretora da editora Desiderata e responsável pelo lançamento do volume 1 de uma antologia do Pasquim, compreendendo o período de 1969 a 1970.

Jaguar começou dizendo que nunca gostou de trabalhar e menos ainda agora que está velho, arrancando gargalhadas na platéia e que Marta fazia jus a seu nome. A primeira pergunta de Marta Batalha foi a de sempre "como surgiu o Pasquim?". Jaguar contou que a primeira edição saiu com 20000 exemplares, contra a sua vontade. E já na primeira edição atingiu 80000 exemplares. E em seis meses estava na marca dos 200000 exemplares. E que isto aconteceu pois tinha em seu quadro o primeiro time da imprensa brasileira, pois muitos estavam desempregados devido a perseguição da ditadura militar.

Marta ressaltou que ficaram impressionados em descobrir que Vinicius de Moraes também escrevia nos primeiros números do Pasquim. Jaguar contou que muitos não sabem, mas ele também escrevia crítica de cinema no "Última Hora", e contava tudo que acontecia nos filmes. E segundo Jaguar, os textos são excelentes e valem à pena serem transformados em livro. Jaguar disse que constantemente, pessoas o achavam parecido com Vinicius. E que certa vez em Brasília uma pessoa o achou parecido com o Vinícius e mais ainda com o "falecido Jaguar". Muitos risos na platéia.

Em seguida passou a contar detalhes de sua prisão. Marta lembrou que ele e o Paulo Francis ficavam lendo Freud de cueca na cela. Jaguar contou que estava escondido em Arraial do Cabo, na casa do apresentador Flávio Cavalcanti. E na casa estava também a Leila Diniz. Recebeu um telefonema de Paulo Francis que já estava preso e que os milares só iam soltá-lo se ele e o Sérgio Cabral se apresentassem. Reclamou e Francis encerrou a ligação dizendo que a decisão de se entrega ficava com a sua consciência.

Disse que Flávio Rangel adorava ser preso. Pegou um táxi e foi até a casa de Flávio Rangel e este já estava com uma mala enorme. Perguntou para aquilo se iam somente dar um depoimento. Passaram e pegaram o Sérgio Cabral e foram para o Quartel dos Paraquedistas. Ao se aproximar resolveu voltar e Sérgio perguntou-lhe se tinha se arrependido. Jaguar respondeu que não, mas queria tomar uma dose antes. Ficou preso por sessenta dias e segundo, foram os "dois meses mais felizes de minha vida". Acordava de manhã e não tinha o que fazer, senão ler. E leu Ulisses e obras de Tolstoi, livros tão grandes que somente preso teria coragem de ler. Jaguar disse que neste tempo de prisão só ocorreu um ato de violência, o Luiz Carlos Maciel também companheiro, tinha um cabelo enorme e os militares se invocaram e resolveram cortá-lo. Foi preciso vários homens para segurá-lo. Os demais presos resolveram fazer uma greve de fome e Jaguar não concordou, pois já estava preso e ainda tinha que passar fome. Ele e o Flavio Rangel ficavam lendo a Revista do Clube Militar e faziam piadas das bravuras do militares. Passaram o natal na cadeia e o restaurante Antonio’s mandou perú assado, rabanada e outros tipos de comida. Sérgio Cabral e Ziraldo ficavam chorando por estarem longe da família. E assistiram o programa do Roberto Carlos.

Lembrou que um dos tenentes na época, conhecido por Macieira, tempos depois abriu um restaurante gay em San Francisco, EUA. E dos dois censores do Pasquim: Mariana e Juarez Pinheiro. Comentou sobre a entrevista de Flávio Cavalcanti do qual não participou e a com Jânio Quadros onde tomaram todas e ele acabou dormindo no gramado, assunto do qual depois fez uma crônica. No seu entender, a maior contribuição do Pasquim foi para a mudança da linguagem jornalística da imprensa brasileira.

E disse que ao fazer o Pasquim, o maior trabalho era colocar o título na capa. Finalizando disse que o ambiente da redação do Pasquim era de total liberdade e em sua mesa sempre tinha uma garrafa de uísque e conversavam aos berros.

Hoje, acha o ambiente das redações deprimentes, com as pessoas trabalhando numa baia e a conversa feito somente por meio do computador. Em seguida, Jaguar autografou a coletânia.

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