sexta-feira, janeiro 11, 2008
O mais profílico escritor do mundo
O escritor mais profílico do mundo é o brasileiro José Carlos Ryoki de Alpoim Inoue. Vale a pena visitar seu site.
quinta-feira, janeiro 10, 2008
Rascunho para um romance histórico
Firmo como sub-delegado
O corpo do negrinho estava na beira do rio. A mãe chorarava e os parentes conversavam sobre o que teria acontecido. Firmo de Araújo aproximou-se e apeou do cavalo.Abaixou e ficou examinando o corpo à procura de sinais de violência, não encontrando.
O coronel Felismino Rocha dono da fazenda o do negrinho chegou à cavalo.
- Firmo, não sei como você ainda perde tempo com esta gente. São preguiçosos e só pensam em fugir. – Foi dizendo ao apear do cavalo.
- Coronel, minha função exige que toda pessoa falecida em minha jurisdição receba a mesma atenção, sendo negro ou não. – Respondeu Firmo sem olhar para o coronel.
O coronel Felismino passou também a examinar o corpo e ao olhar observou que a sola dos pés do negrinho havia sido roída pelos peixes.
- Veja sub-delegado. - Apontou a sola com o cabo de seu chicote.
- Nem os peixes suportam os negros, roeram a sola dos pés que é branca. – E soltou uma gargalhada. Os negros ali próximos ficaram furiosos mas não disseram nada já que conheciam a fama violenta do coronel.
- Coronel o corpo será conduzido para a séde da fazenda onde vou fazer o laudo e preciso de sua testemunha e de mais uma pessoa da fazenda para assinar já que os parentes são analfabetos. Preciso de sua ajuda para conduzir este corpo ao cemitério de Santo Antônio de Pádua para ser enterrado.
- Vocês lá cidade me vem com esta. O mais fácil era jogar esta praga no rio e nos pouparia o trabalho. - Disse o coronel Felismino limpando o suor da testa.
- Coronel estou aqui para cumprir o que manda a lei. - Respondeu Firmo.
- A lei, a lei, a lei. - Ficou dizendo as mesmas palavras sem concluir a frase. O coronel montou em seu cavalo e o chicoteou seguindo para a séde da fazenda.
Os negros tinham improvisado uma maca e transportaram o negrinho até a séde da fazenda. Firmo de Araújo sentado em uma mesa rústica redigiu o laudo e passou para o coronel Felismino assinar e depois para de seus capagas. O coronel vendo que Firmo não brincava quando dizia que a lei seria cumprida forneceu uma carroça para o corpo ser transportado.
- Firmo já que cumpriu seu dever, vamos subir para tomar um café. - Disse o coronel Felismino colocando a mão em seu ombro.
- Aceito coronel, ainda não tomei café hoje. - Respondeu Firmo.
Subiram o alpendre e de lá Firmo observou a paisagem e via o majestoso Rio Pomba com suas águas de um verde-claro. E onde não via matas, via cafezais e mais cafezais. Por alguns segundos ficou observando, quando ouvi o barulho das botas do coronel.
- Vamos entrar senão o café esfria. - Convidou Felismino com um gesto.
Sentaram à mesa. Tinha café e broa de milho. O coronel comia de maneira estabanada e o farelo da broa caia no chão e levava à boca uma enorme caneca e falando ao mesmo tempo.
- Mas jovem, tenho ouvido falar muito da sua competência na administração da fazenda de seu pai. - Disse o coronel colocando a caneca vazia na mesa.
- Obrigado pelo elogio coronel, mas tenho feito o melhor que posso para ajudar meu pai. - Respondeu Firmo.
- Será que já não é hora de pensar em casar e constituir uma família? Olha que tenho várias sobrinhas.
- Ainda não, coronel. Casamento não estão nos meus planos.
- Mas meu rapaz para ser um fazendeiro ou um deputado você precisa ter uma mulher.
- Não tenho esta pretensão de ser deputado, quero administrar bem a fazenda.
- Isto você já faz, mas ficar preocupado em registrar óbito de negro afogado em rio não vai te levar a lugar nenhum.
- Coronel Felismino, os tempos estão mudando. E negro também é gente. E estes novos tempos exigem fazendeiros mais preparados e com o surgimento de novas cidades teremos que administrá-las ou buscar gente em outros lugares. E para manter o poder temos que estar capacitados, disse Firmo.
- Meu jovem, você tem razão, os tempos são outros. Hoje tenho esta enorme fazenda e posso dizer que estou rico. Ganhei muito dinheiro trazendo escravos, sal e outras mercadorias de Campos para estas regiões mas hoje o ganho é pequeno. E não sei até quando teremos esta mão-de-obra barata que é o escravo.
- E não só o café mas as indústrias que estão por vir e li esta semana no jornal que recebi do Rio que a ferrovia em breve estará chegando por estas bandas.
- Firmo não sou de ler jornais, mas isto deve ser brincadeira.
- Coronel, estive na inauguração da estação de Recreio agora em julho passado. E não imagina o quanto já mudou naquela vila a presença do trem. Toda a produção de café será exportada pela ferrovia e não mais no lombo das mulas.
- Isto vai demorar muito. – Disse o coronel indo até a janela e olhando a vista do Rio Pomba.
- Existirão muitas cidades nesta região todas servidas com estação de trem.
- O governo do Império está sempre sem dinheiro como irão fazer isto?
- Os ingleses estão interessados em investir pois sabem que a taxa de retorno será grande. A região é muito fértil e com os custos baixos de transporte mais fazendeiros investirão no café.
- Firmo como está sempre bem informado, não errei em dizer que poderia ser um deputado.
- Não vou negar que não tenha ambições políticas, mas não quero sair desta região, posso ser um vereador e quem sabe quando velho, um chefe político. E acredito muito no progresso desta região e estão vindo muitos fazendeiros da região da Leopoldina para estas terras. No ano passado o Dr. Costa Reis comprou a fazenda da família Paula lá pelos lados do Arraial Novo.
- Fiquei sabendo e ele é um médico bastante conceituado e se está investindo por aqui é que vai ter retorno.
- Disso não tenho dúvida, e o Dr. Costa Reis é que têm pretensões maiores de chegar a deputado. Coronel, a conversa está boa mas tenho que ir, muito serviço me aguarda na fazenda.
- Firmo quando tiver tempo apareça para conversar. Pena que somente seus encargos o trazem aqui., disse o coronel acompanhando Firmo até seu cavalo.
Firmo em Santo Antônio dos Brotos
Firmo seguiu pela trilha indo para a fazenda de seu pai que ficava próxima ao lugar conhecido por Santo Antônio dos Brotos, onde existiam alguns casebres pobres. Pela estrada ia encontrando tropeiros uns que iam para Campos dos Goitacazes e outros indo para os sertões das Minas Gerais. Seguia acompanhado de seus dois auxiliares, afinal ninguém era louco de arriscar andar por aquelas estradas armado, quando menos escoltado. Notícias de roubos circulavam por toda a região. Havia assumido há poucos meses e apesar de dar combate a esta bandidagem ainda existiam crimonosos escondidos nas matas, muitas vezes protegidos pelos índios puris.
Chegaram cansados à fazenda, os capangas soltaram os cavalos e ao Firmo caminhar pelo terreiro encontrou seu pai com as mãos para trás e pensativo.
- Firmo sei que gosta desta tua profissão de sub-delegado, mas isto vai acabar prejudicando você e nossos trabalhos aqui na fazenda. – Disse o pai Antonio de Araújo.
- Pai faço isto porque gosto e estou tomando tanto gosto que quero disputar a próxima eleição para juiz de paz.
- Estes cargos vão lhe trazer coisas boas, mas junto vem um monte de inimigos.
- Pai não gostei da maneira que o coronel Felismino trata seus negros. Para ele não passam de bichos.
- O coronel Felismino é assim mesmo e quando fica furioso com algum problema, estravaza tudo chicoteando seus negros. É um homem extremente cruel, mas muito rico e se você tem pretensões políticas o melhor é não recriminá-lo.
- Segui isto à risca, dizendo-lhe que estava cumprindo a lei, mas não critiquei sua maneira de agir e pensar.
- Fez muito bem, meu filho. – Antônio Araújo abraçou Firmo – Vá tomar um banho que sua mãe irá preparar seu almoço, o dia de hoje foi muito cansativo.
Firmo estava almoçando quando chegaram alguns homens pedindo sua presença na povoação dos Brotos onde havia ocorrido um assassinato, coisa corriqueira naquelas bandas. Sem terminar a refeição, pegou seu chapéu e ao descer o alpendre o cavalo já estava arriado à sua espera.
Ao entrar no local do crime, Firmo sentiu o cheiro forte de bebida alcóolica. Era um bar muito pobre com algumas garrafas numa partileira de madeira rústica. Havia muito sangue no chão e as tripas para fora. A vítima havia sido esfaqueada numa briga de bêbados. Firmo tomou notas e na mesa do bar fez o laudo e mandou conduzir o cadáver para ser enterrado no cemitério improvisado da povoação.
No começo da função de sub-delegado, Firmo sentia-se, principalmente à noite, atormentado por aquelas cenas de crimes na maioria das vezes cometido por banais discussões. E na maioria dos casos, fazia somente o registro, já que os criminosos embreavam nas matas, onde a busca era difícil e com os recuros limitados e a enorme extensão de sua jurisdição. Aquilo estava anestesiando seus sentimentos e agora qualquer ocorrência não lhe surpreendia mais.
Aproveitou o resto da tarde para fazer visita aos amigos do povoado já que tinha em mente disputar na próxima eleição, o cargo de juiz de paz. Voltou à fazenda no final da tarde, pois não queria correr o risco de viajar à noite por aquelas estradas perigosas, onde poderia ser atacado por bandidos ou índios.
Firmo é eleito juiz de paz
Muita agitação no prédio na escola de ensino da povoação onde ocorria a eleição para juiz de paz. A disputa era grande e fazendeiros votavam e eram também candidatos, chegavam de paletó e gravata. No final do dia as urnas abertas e feita a apuração e Firmo de Araújo venceu com diferença de apenas 2 votos e no dia seguinte viajou até Pádua e desistiu do cargo de sub-delegado de polícia. A partir daí seu trabalho era fazer casamentos, mediar demandas, um trabalho mais limpo e mais agradável do que ficar inspecionando cadáveres e correndo atrás de bandidos por aqueles sertões.
Firmo sempre muito sensato constantemente era procurado para aconselhar, apartar brigas de família e a cada dia sua fama aumentava na região e não demorou muito para começar a sonhar em galgar cargo mais alto. E na eleição seguinte disputou o cargo de vereador sendo eleito com folgada votação.
Por muitos anos aquela região era palco de disputas de divisas entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Firmo passou a ser procurado por autoridades fluminenses para usar seu prestígio em vista a confundir ainda mais. E aproveitou a oportunidade para aumentar seu capital político indo para o lado do estado de seu nascimento. E com juiz de paz procurar levar todos os trabalhos para serem feitos no Capivara.
Firmo se interessa pelo Capivara e organiza comissão para construção da igreja
As casas na povoação do Capivara eram pobres e Firmo passou a se interessar pelo progresso do lugar. A capela da povoação construída de pau-a-pique e muito pequena. Convidou vários fazenderios para uma reunião na fazenda Fortaleza onde propôs a construção de uma igreja grande e bonita, no mesmo padrão das que existiam em Barbacena. A reunião foi ruidosa, uns favoráveis à construção, mas de algo simples, sem muita ostentação. Firmo tomou a palavra:
- Senhores, em breve este lugar vai ser uma grande cidade como a minha querida Barbacena. Será aqui que serão criados os vossos filhos e netos e vão ficar pensando em algo pequeno? Vamos fazer o melhor hoje para deixar isto como herança e para que eles tenham tempo e dinheiro para outras coisas.
- Mas isto vai ficar muito caro.
- Vai ficar mesmo pois vamos ter que contratar um mestre-de-obras competente e tenha feito já trabalhos em outros lugares.
- Nosso povo é pobre, não temos recursos para tanto.
- Claro que os senhores possuem recursos suficientes para este empreendimento. Acham que o progresso ocorrerá sem que coloquem a mão no bolso.
- De início aqui está minha contribuição. – Firmo enfiou a mão no bolso e tirou um maço de notas e colocou na mesa e numa folha anotou seu nome e o valor. – Agora é hora dos senhores fazerem o mesmo.
O primeiro fazendeiro que pegou a lista quase tomou um susto ao ver o número anotado por Firmo. Pegou a pena e anotou um valor menor, mas não muito e todos os presentes subscreveram a lista.
- Senhores, quem não estiver com dinheiro não tem problema. De posse da lista pode deixar que vou visitar com um e pegar dinheiro. Hoje mesmo estarei escrevendo para Barbacena pedindo a indicação de um bom mestre-de-obra e depois convocarei outra reunião e em breve estaremos dando início aos trabalhos de construção. O povo deste povoado é muito pobre para contribuir. Esta primeira lista será para início, depois serão solicitadas novas contribuições.
Os fazendeiros começaram a se levantar e Firmo cumprimentou um a um. Embora não concordassem em muitas coisas, sabiam que ele era um líder e que somente com sua organização, o progresso do Capivara tomaria um rumo.
Em poucas semanas, o mestre-de-obras chegou e o contrato celebrado no cartório com vários representantes da comissão. Voltou depois de mais algumas semanas com ferramentas e ajudantes e em poucos dias deram início ao trabalho da construção da igreja no morro do Capivara. Firmo vinha todos os dias inspecionar a obra e se inteirava de cada detalhe. Queria empregado o melhor material e a melhor técnica. Administrava os recursos com parcimônia e tomava nota de cada centavo gasto e apresentava os balanços à comissão do andamento dos serviços e dos gastos, fazia questão de esclarer todos os pontos.
Firmo contrata Simoneaux
Em uma viagem a Barbacena, Firmo de Araújo conheceu Simoneaux, um francês já bastante adaptado ao modo de viver brasileiro, mas não tinha perdido o sotaque. Ele impressionou Firmo com seu conhecimento de armas e política. Gabava-se de ter sido pirata e chegou a ser preso no Rio de Janeiro de onde fugiu. Foi parar em Barbacena ficando sabendo que nesta cidade existia muitos cidadãos desta mesma nacionalidade, onde pretendia arrumar trabalho. Firmo gostou de seu jeito reservado e gostou também de seus conhecimentos táticos, o ajudariam na sua carreira política no Capivara, visto que os inimigos a cada dia aumentavam. E sua pretensão de ser um chefe político poderoso com atuação na região.
- Senhor Firmo não conheço este Capivara, mas estou disposto a ir servi-lo. – Disse Simoneaux com a mão segurando os botões do paletó.
- Seria uma honra tê-lo em meu grupo, temos muito trabalho pela frente.
- Isto não me assusta, estou acostumando a trabalhos especiais e uma boa recompensa me estimula mais ainda. – Disse, piscando os olhos para Firmo.
- Ofereço-lhe estadia e alimentação no Capivara e mais uma boa recompensa financeira.
Simoneaux levantou e pegou na mão de Firmo.
- Já estamos conversados, quando começo?
- Estou de partida amanhã à tarde. Aproveite o resto do dia para acertar suas coisas em Barbacena.
O ex-pirata saiu rapidamente do bar. Firmo levantou-se pegou sua bengala e o chapéu e saiu para a rua seguindo na direção da casa de seus pais.
Firmo inspeciona as obras da ferrovia
Os trabalhos da ferrovia avançavam para o Capivara e a turma de abertura já estava a 1 légua e meia do Arraial Novo. Guilherme Tell estava suado e espantava os mosquitos com uma mão e a outra segurava papéis onde anotava tudo referente à obra. O engenheiro Peter Smith andava de um lado para outro inspecionando tudo e quando algo não estava do seu jeito passava a gritar e quando sua histéria atingia o máximo, todos os palavrões eram em inglês. Os escravos acostumados a tomar chicotadas por qualquer motivo, continuavam trabalhando impassíveis e ouvir aqueles gritos dos quais não entendiam nenhuma palavra.
A comitiva de Firmo de Araújo aproximou-se da obra, o engenheiro nem deu atenção e Guilherme Tell o atendeu com toda a educação.
- Senhor a devemos esta honra. – Disse com forte sotaque inglês.
- Bom dia senhor, qual sua graça?
- Guilherme Tell, o apontador da ferrovia. – Disse estendendo a mão.
Firmo desceu do cavalo e o comprimentou.
- Vim olhar a quantas andam os trabalhos da construção desta importante ferrovia.
- Está indo bem, em breve já estaremos com os trilhos no Capivara.
- Isto é muito bom, e ela trará muito progresso para nossa região.
- Senhor Guilherme fiquei sabendo de que está gostando muito do nosso burgo. – E aproximando-se – E me disseram também que já até um rabo-de-saia por aqui.
- Sim, é verdade.
- E ao terminar as obras irá embora ou pensa em fixar por aqui?
- Ainda não sei, Senhor Firmo.
- Tive boas referências sobre o senhor, se pensar em ficar, me procure. Estendeu a mão e despediu-se de Guilherme.
A inauguração da estação de trem do Capivara
A locomotiva chegou apitando e espalhando poeira e, o dia seria festivo no Capivara. Muitas pessoas tinham vindo das fazendas para aquele grande acontecimento, a inauguração da estação do trem. Firmo de Araújo com o paletó fechado, o dia estava frio, observava tudo, afinal ele tinha sido o grande organizador. Na mão levava algumas folhas de papel e de vez em quando lia. Fez um silêncio e ele discursou por uns quinze minutos enaltecendo a companhia que estava executando aquela obra e seus altos funcionários, quase todos ingleses. Disse que aquele dia seria um marco para este povoado, e daí em diante o progresso chegaria e de trem. Foi muito aplaudido e agradeceu ao meio de uma salva de palmas. Firmo cortou a fita e estação estava inaugurada e a população pode conhecer as instalações: a bilheteria, o telégrafo e tudo cheirava a novo. Todos estavam emocionados e entusiasmados de que tudo aquilo estivesse acontecendo no pequeno Capivara e Firmo andava de um lado para outro, admirando tudo. E pensava que sua carreira política cresceria nas próximas eleições.
Em seguida os chefes, engenheiros e outros altos funcionários caminharam para o hotel onde estava sendo preparado um banquete para comemorar a chegada dos trilhos até o Capivara.
Firmo sentou-se na cabeceira da mesa e ao ver todos sentados, levantou-se, pegou um cálice e ergueu.
- Quero fazer um brinde ao senhor John Smith e seu escriturário Guilherme Tell pelos seus enormes serviços.
Brindaram e em seguida John Smith já um pouco vermelho pois o seu café da manhã era uma boa dose de uísque.
- Agradeço os elogios. E quero dizer que para que vá vou lembrar do povo desta região pela sua hospitalidade e o apoio que Firmo de Araújo nos prestou nas horas que mais necessitamos.
Muitos aplausos e Firmo ficou muito lisongeado com aqueles elogios rasgados do engenheiro, afinal toda vez que visitava as obras, pensava que ele não gostava. Na realidade John Smith estava aos poucos deixando de ser um pouco britânico e mais brasileiro.
Ao terminar o almoço, Guilherme Tell pediu para ter uma conversa em particular com Firmo.
- Senhor, lembra-se daquele dia em que ofereceu para me ajudar a fixar nesta terra?
- Claro que lembro senhor Guilherme. – Respondeu Firmo.
- Estou pensando em me casar e precisava de uma colocação já que as obras da ferrovia estão no fim.
- Senhor Guilherme, acho que tenho um lugar. Vá amanhã na parte da manhã em minha fazenda para conversarmos melhor.
Firmo dirigiu ao cabine e pegou seu chapéu e bengala e partiu. Ao sair na rua, caia uma fina garoa. Imediatamente seus capangas trouxeram seu cavalo e dirigiram todos para a fazenda Fortaleza.
A construção da ferrovia de Recreio-Capivara
O trabalho de construção da ferrovia era duro. Muitos ficavam doentes e sempre havia briga entre os trabalhadores contratados. Os escravos faziam o serviço mais pesado e bruto. E os brancos contratados faziam os arremates, testavam todos os detalhes. E vários homens armados iam à frente desbravando e enfrentando bichos e principamente índios, que na maioria das vezes fugia assustado com o barulho e com os tiros que disparavam para o alto.
Muitas vezes alguns índios em grupos atacavam as equipes e eram repelidos à tiros, muitos morreram na mata. Quando começaram a funcionar as primeiras locomotivas, os homens brancos assustavam aos índios dizendo que aquele enorme bicho que vinha poderia ir atrás deles no meio da mata. E ao ouvir o barulho de “tof-tof-tof” corriam desesperadamente para o meio da matas e ficavam escondidos.
Firmo em Cataguases à busca de informações para o clube republicano
Pelo jornais e nas reuniões o movimento republicano começou a empolgar, principalmente os mais jovens. Firmo de Araújo também admirava o movimento e tinha receio de que a abolição dos escravos arruinasse a economia da região e sempre ia nas reuniões em Leopoldina e Cataguases.
- Caro Firmo a monarquia não resiste mais. O imperador está velho e sente o peso do governo em suas costas.
- Mas ele fala em renunciar ou algo parecido.
- Claro que não, quer continuar mantendo seus privilégios. Mas vai mudar em breve com a vinda da república. Haverá eleições e os mais capacitados tomarão lugar na administração. Novos tempos vem por aí. Veja as ferrovias, com a iniciativa do capital, principalmente dos ingleses, é possível vir do Capivara a Cataguases em poucas horas, coisa impensada anos atrás.
- Isto é verdade, não imagina o quanto o Capivara está progredindo nestes últimos anos. A produção aumenta a cada dia e a vila com obras por toda a parte. A sédes daas fazendas sendo reformadas. Os moços estão indo estudar em outras cidades e estamos numa fase de muita prosperidade.
- E com a república isto vai melhorar ainda mais. E você caro Firmo precisa organizar um clube repubicano no Capivara e quando tomarmos o governo você poderá exercer todo o poder para trazer mais progresso ao seu Capivara.
- É para isto que estou aqui em Cataguases, mas ainda um pouco de receio pela receptivadade dos fazendeiros e, como os senhores mesmo sabem, na minha região eles são escravocratas.
- Mas aí que está a sua oportunidade de mostrar-lhes sua liderança, assumindo esta posição e te digo com certeza, as coisas irão mudar e não vai demorar muito. E a respeito da mão-de-obra, os republicanos estão pensando em tudo, vamos incentivar a imigração de estrangeiros. Vamos importar trabalhadores da Europa e da Ásia.
- Mas esta para mim é nova. Não entendi bem.
- Firmo, estamos em entendimentos com os clubes no Rio de Janeiro e São Paulo para trazermos trabalhadores livres e recebendo salários. E pelo que estamos vendo ficará mais barato, pois o café está cada vez mais valorizado. E este trabalhador apesar de receber, vai custar mais barato do que manter um negro, onde você tem que lidar com a indolência, alimentá-lo, vesti-lo, fornecer moradia e ainda cuidar quando fica doente. E além disso, o negro não consome, inviabilizando a instalação das indústrias, como na Inglaterra.
- Voltando ao Capivara, vou reunir os fazendeiros e expôr estas idéias.
- Aproveita esta reunião e monta um clube republicano. Posso enviar-lhe pelo correio material de propaganda e jornais. E quando a república vir a ser instalada, você Firmo, será o líder de sua localidade para trazer ainda mais progresso.
- Será muito bom, pois há anos venho lutando para o crescimento do Capivara e se a república tornará isto mais fácil, já posso dizer que sou um republicano.
- E lá na sua região pode contar com o apoio de um companheiro nosso, o Dr. Costa Reis.
- Não tenho muito conhecimento com ele, apesar de saber que vem fazendo um bom trabalho em sua fazenda e fazendo atendimento médico às pessoas da proximidade
- Sim, o Dr. Costa Reis é um dos nossos e sem dúvida pela sua capacidade intelectual será um dos nossos representantes na Câmara Estadual.
- Qualquer dia desses, quero fazer uma visita ao Dr. Costa Reis e conversar sobre o movimento republicano.
- Vou enviar-lhe uma carta e este contato será mais fácil.
- Obrigado, pela sua colaboração.
Firmo reúne os fazendeiros do Capivara
Dias depois, Firmo convocou os principais fazendeiros para uma reunião em sua fazenda e comunicou que queria discutir sobre o movimento republicano que prometia mudar os destinos da política e da economia e isto seria de interesse de todos eles. O fazendeiro mais entuasmado, senhor Bernardo Magalhães, pediu a palavra e fez um discurso veemente e empolgante. Os fazendeiros tinham poucas informações sobre o movimento que estava surgindo principalmente nas capitais e gestando nas faculdades. Passaram a tarde discutindo sobre estes assuntos, quando Firmo propôs a fundação de um clube, conforme sugerido por Pedro Nicácio, ao que todos concordaram.
O jovem Jeremias Freitas participou da reunião a convite de Firmo e atuou como secretário e entusiasta deste movimento e apesar da idade, sempre estava orientando e sugerindo idéias e mudanças pelos livros que lia. A ata ficou pronta e passada para assinarem e o primeiro, Bernardo Magalhães, seguido dos demais.
Após a fundação do clube ocorriam reuniões quase todo mês e liam avidamente o material recebido e discutiam sobre os mais diversos asssuntos, sempre sobre a liderança de Firmo que a cada dia se tornava mais republicano. E pela disseminação dessas idéias e o Capivara crescendo, recebendo pessoas de outras localidades quase todos os dias.
A publicação da “Gazeta do Capivara”
Começou a ser publicado no povoado um jornal, impresso numa rudimentar tipografia que ficava em uma casa próxima à Rua da Pedreira e divulgava as novas do movimento republicano e notícias como brigas, assassinanatos, casamentos e falecimentos e recebeu como nome “Gazeta do Capivara”. E quase todas as matérias escritas por Francisco Bezerra, baiano, que vivia de paletó e gravata e passava a maior parte do dia na rua central em um bar jogando bilhar, tomando umas e conversando com as pessoas para saber das notícias para publicar no jornal.
Firmo e suas opções amorosas
Firmo não época de estudava em Pádua, frequentava os prostibulos e nunca namorava e seus colegas tiravam sarro por este compartamento até que um dia, sério e muito veemente apresentou sua versão, contando que anos atrás tinha se apaixonado por um moça de Barbacena e tanto sua família como a dela foram contra o relacionamento e depois disso, tomou a decisão de jamais se casar, pois tinha amado somente uma vez.
Pela sua importância como fazendeiro e líder político, quase sempre tocavam no assunto de não casar e davam indiretas dizendo que tinham filhas e sobrinhas no ponto para se casar e que fariam o maior gosto e, Firmo sempre se esquivava. Aos poucos foi inevitável, continuar escondendo seu relacionamento com mulheres de origem mais humilde, sempre filhas de colonos da sua fazenda e outros.
- Prefiro estas moças do que a filha destes fazendeiros, cheia de não me toques. Quando na flor da idade são graciosas, depois que casam ficam rancorosas e autoritárias. E estas moças não. Sempre dispostas a dar carinho e amor.
- Disso você tem razão, Firmo.
- E daqui uns meses vai nascer meu primeiro filho e se fôr homem, vai se chamar Firmo.
Firmo é ridicularizado pela “Gazeta da Palma”
Na “Gazeta da Palma” saiu um artigo com pseudônimo de “O Monarquista” e ironizava a criação do clube no Capivara e a prosmicuidade dos relacionamentos do chefe, Firmo de Araújo. Este ficou muito irritado pelas críticas e mais ainda pelo autor se esconder. Chamou seus capangas pediu para descobrissem que era aquela canalha. Tarde da noite, Francisco Bezerra chegava na sua casa, a lua esta clara e ele ébrio declamava poesias pela rua, quando se assustou com a aproximação de dois cavalheiros.
Percebeu o perigo e tentou entrar por uma viela, mas foi alcançado e em segundos viu-se sobre a mira de armas e os homens queriam o nome de quem escreveu aquele artigo infame publicado no jornal daquele dia e mesmo depois de tomar coronhadas e muitas ameaças, não revelou.
Firmo conversar com o Dr. Costa Reis
Firmo acompanhado de seus fiéis escudeiros Simoneaux e Guilherme Tell embarcaram no trem para o Arraial Novo e, ia conversar com o Dr. Costa Reis à respeito do partido republicano. Ao desceram na estação, empregados os aguardavam com cavalos para seguirem a fazenda Aliança. Firmo de Araújo montou e saiu na frente, sendo seguido por seu capangas e empregados do médico. Os passageiros observaram aquela figura e ficaram pensando se era verdade todos aqueles boatos que circulavam a respeito de Firmo.
Ao chegarem, o Dr. Costa Reis estava na varanda, fazia muito calor. Firmo subiu as escadas e depois de cumprimentar o médico, sentou-se e passaram a falar do clube republicano e dos projetos de transformar o Capivara numa cidade. E Firmo observou a vista do Rio Pomba que se tinha da varanda da fazenda e lembrou-se anos atrás da conversa que tivera com o Felismino Rocha.
- Dr.Costa Reis estou admirado pela beleza de sua fazenda.
- Obrigado, Firmo, gosto muito deste lugar e estou fazendo o possível para trazer o progresso para cá.
- No Capivara o clube já está organizado e quando puder, gostaria que participasse de uma reunião conosco. Sua experiência política e seus conhecimentos de um governo republicano em muito nos ajudaria a fortalecer nossas posições.
- Podemos marcar para o próximo mês e ficarei muito contente em colaborar com sua luta no Capivara.
- Dr. Costa Reis a única coisa que não gostei foi de ser criticado por aquele jornalista baiano que fez insunuações nada lisonjeiras à respeito de mnha pessoa.
- Isto é uma coisa que temos de aprender a conviver num governo republicano. As pessoas são livres para pensar, dizer e escrever.
- Aceito críticas à respeito do meu trabalho como político, mas ir para o lado pessoal não aceito e como já deve estar sabendo, mandei-lhe dar uma sova.
- Firmo, não concordo com seus métodos, mas respeito suas opiniões. É preciso ter muito cuidado.
O corpo do negrinho estava na beira do rio. A mãe chorarava e os parentes conversavam sobre o que teria acontecido. Firmo de Araújo aproximou-se e apeou do cavalo.Abaixou e ficou examinando o corpo à procura de sinais de violência, não encontrando.
O coronel Felismino Rocha dono da fazenda o do negrinho chegou à cavalo.
- Firmo, não sei como você ainda perde tempo com esta gente. São preguiçosos e só pensam em fugir. – Foi dizendo ao apear do cavalo.
- Coronel, minha função exige que toda pessoa falecida em minha jurisdição receba a mesma atenção, sendo negro ou não. – Respondeu Firmo sem olhar para o coronel.
O coronel Felismino passou também a examinar o corpo e ao olhar observou que a sola dos pés do negrinho havia sido roída pelos peixes.
- Veja sub-delegado. - Apontou a sola com o cabo de seu chicote.
- Nem os peixes suportam os negros, roeram a sola dos pés que é branca. – E soltou uma gargalhada. Os negros ali próximos ficaram furiosos mas não disseram nada já que conheciam a fama violenta do coronel.
- Coronel o corpo será conduzido para a séde da fazenda onde vou fazer o laudo e preciso de sua testemunha e de mais uma pessoa da fazenda para assinar já que os parentes são analfabetos. Preciso de sua ajuda para conduzir este corpo ao cemitério de Santo Antônio de Pádua para ser enterrado.
- Vocês lá cidade me vem com esta. O mais fácil era jogar esta praga no rio e nos pouparia o trabalho. - Disse o coronel Felismino limpando o suor da testa.
- Coronel estou aqui para cumprir o que manda a lei. - Respondeu Firmo.
- A lei, a lei, a lei. - Ficou dizendo as mesmas palavras sem concluir a frase. O coronel montou em seu cavalo e o chicoteou seguindo para a séde da fazenda.
Os negros tinham improvisado uma maca e transportaram o negrinho até a séde da fazenda. Firmo de Araújo sentado em uma mesa rústica redigiu o laudo e passou para o coronel Felismino assinar e depois para de seus capagas. O coronel vendo que Firmo não brincava quando dizia que a lei seria cumprida forneceu uma carroça para o corpo ser transportado.
- Firmo já que cumpriu seu dever, vamos subir para tomar um café. - Disse o coronel Felismino colocando a mão em seu ombro.
- Aceito coronel, ainda não tomei café hoje. - Respondeu Firmo.
Subiram o alpendre e de lá Firmo observou a paisagem e via o majestoso Rio Pomba com suas águas de um verde-claro. E onde não via matas, via cafezais e mais cafezais. Por alguns segundos ficou observando, quando ouvi o barulho das botas do coronel.
- Vamos entrar senão o café esfria. - Convidou Felismino com um gesto.
Sentaram à mesa. Tinha café e broa de milho. O coronel comia de maneira estabanada e o farelo da broa caia no chão e levava à boca uma enorme caneca e falando ao mesmo tempo.
- Mas jovem, tenho ouvido falar muito da sua competência na administração da fazenda de seu pai. - Disse o coronel colocando a caneca vazia na mesa.
- Obrigado pelo elogio coronel, mas tenho feito o melhor que posso para ajudar meu pai. - Respondeu Firmo.
- Será que já não é hora de pensar em casar e constituir uma família? Olha que tenho várias sobrinhas.
- Ainda não, coronel. Casamento não estão nos meus planos.
- Mas meu rapaz para ser um fazendeiro ou um deputado você precisa ter uma mulher.
- Não tenho esta pretensão de ser deputado, quero administrar bem a fazenda.
- Isto você já faz, mas ficar preocupado em registrar óbito de negro afogado em rio não vai te levar a lugar nenhum.
- Coronel Felismino, os tempos estão mudando. E negro também é gente. E estes novos tempos exigem fazendeiros mais preparados e com o surgimento de novas cidades teremos que administrá-las ou buscar gente em outros lugares. E para manter o poder temos que estar capacitados, disse Firmo.
- Meu jovem, você tem razão, os tempos são outros. Hoje tenho esta enorme fazenda e posso dizer que estou rico. Ganhei muito dinheiro trazendo escravos, sal e outras mercadorias de Campos para estas regiões mas hoje o ganho é pequeno. E não sei até quando teremos esta mão-de-obra barata que é o escravo.
- E não só o café mas as indústrias que estão por vir e li esta semana no jornal que recebi do Rio que a ferrovia em breve estará chegando por estas bandas.
- Firmo não sou de ler jornais, mas isto deve ser brincadeira.
- Coronel, estive na inauguração da estação de Recreio agora em julho passado. E não imagina o quanto já mudou naquela vila a presença do trem. Toda a produção de café será exportada pela ferrovia e não mais no lombo das mulas.
- Isto vai demorar muito. – Disse o coronel indo até a janela e olhando a vista do Rio Pomba.
- Existirão muitas cidades nesta região todas servidas com estação de trem.
- O governo do Império está sempre sem dinheiro como irão fazer isto?
- Os ingleses estão interessados em investir pois sabem que a taxa de retorno será grande. A região é muito fértil e com os custos baixos de transporte mais fazendeiros investirão no café.
- Firmo como está sempre bem informado, não errei em dizer que poderia ser um deputado.
- Não vou negar que não tenha ambições políticas, mas não quero sair desta região, posso ser um vereador e quem sabe quando velho, um chefe político. E acredito muito no progresso desta região e estão vindo muitos fazendeiros da região da Leopoldina para estas terras. No ano passado o Dr. Costa Reis comprou a fazenda da família Paula lá pelos lados do Arraial Novo.
- Fiquei sabendo e ele é um médico bastante conceituado e se está investindo por aqui é que vai ter retorno.
- Disso não tenho dúvida, e o Dr. Costa Reis é que têm pretensões maiores de chegar a deputado. Coronel, a conversa está boa mas tenho que ir, muito serviço me aguarda na fazenda.
- Firmo quando tiver tempo apareça para conversar. Pena que somente seus encargos o trazem aqui., disse o coronel acompanhando Firmo até seu cavalo.
Firmo em Santo Antônio dos Brotos
Firmo seguiu pela trilha indo para a fazenda de seu pai que ficava próxima ao lugar conhecido por Santo Antônio dos Brotos, onde existiam alguns casebres pobres. Pela estrada ia encontrando tropeiros uns que iam para Campos dos Goitacazes e outros indo para os sertões das Minas Gerais. Seguia acompanhado de seus dois auxiliares, afinal ninguém era louco de arriscar andar por aquelas estradas armado, quando menos escoltado. Notícias de roubos circulavam por toda a região. Havia assumido há poucos meses e apesar de dar combate a esta bandidagem ainda existiam crimonosos escondidos nas matas, muitas vezes protegidos pelos índios puris.
Chegaram cansados à fazenda, os capangas soltaram os cavalos e ao Firmo caminhar pelo terreiro encontrou seu pai com as mãos para trás e pensativo.
- Firmo sei que gosta desta tua profissão de sub-delegado, mas isto vai acabar prejudicando você e nossos trabalhos aqui na fazenda. – Disse o pai Antonio de Araújo.
- Pai faço isto porque gosto e estou tomando tanto gosto que quero disputar a próxima eleição para juiz de paz.
- Estes cargos vão lhe trazer coisas boas, mas junto vem um monte de inimigos.
- Pai não gostei da maneira que o coronel Felismino trata seus negros. Para ele não passam de bichos.
- O coronel Felismino é assim mesmo e quando fica furioso com algum problema, estravaza tudo chicoteando seus negros. É um homem extremente cruel, mas muito rico e se você tem pretensões políticas o melhor é não recriminá-lo.
- Segui isto à risca, dizendo-lhe que estava cumprindo a lei, mas não critiquei sua maneira de agir e pensar.
- Fez muito bem, meu filho. – Antônio Araújo abraçou Firmo – Vá tomar um banho que sua mãe irá preparar seu almoço, o dia de hoje foi muito cansativo.
Firmo estava almoçando quando chegaram alguns homens pedindo sua presença na povoação dos Brotos onde havia ocorrido um assassinato, coisa corriqueira naquelas bandas. Sem terminar a refeição, pegou seu chapéu e ao descer o alpendre o cavalo já estava arriado à sua espera.
Ao entrar no local do crime, Firmo sentiu o cheiro forte de bebida alcóolica. Era um bar muito pobre com algumas garrafas numa partileira de madeira rústica. Havia muito sangue no chão e as tripas para fora. A vítima havia sido esfaqueada numa briga de bêbados. Firmo tomou notas e na mesa do bar fez o laudo e mandou conduzir o cadáver para ser enterrado no cemitério improvisado da povoação.
No começo da função de sub-delegado, Firmo sentia-se, principalmente à noite, atormentado por aquelas cenas de crimes na maioria das vezes cometido por banais discussões. E na maioria dos casos, fazia somente o registro, já que os criminosos embreavam nas matas, onde a busca era difícil e com os recuros limitados e a enorme extensão de sua jurisdição. Aquilo estava anestesiando seus sentimentos e agora qualquer ocorrência não lhe surpreendia mais.
Aproveitou o resto da tarde para fazer visita aos amigos do povoado já que tinha em mente disputar na próxima eleição, o cargo de juiz de paz. Voltou à fazenda no final da tarde, pois não queria correr o risco de viajar à noite por aquelas estradas perigosas, onde poderia ser atacado por bandidos ou índios.
Firmo é eleito juiz de paz
Muita agitação no prédio na escola de ensino da povoação onde ocorria a eleição para juiz de paz. A disputa era grande e fazendeiros votavam e eram também candidatos, chegavam de paletó e gravata. No final do dia as urnas abertas e feita a apuração e Firmo de Araújo venceu com diferença de apenas 2 votos e no dia seguinte viajou até Pádua e desistiu do cargo de sub-delegado de polícia. A partir daí seu trabalho era fazer casamentos, mediar demandas, um trabalho mais limpo e mais agradável do que ficar inspecionando cadáveres e correndo atrás de bandidos por aqueles sertões.
Firmo sempre muito sensato constantemente era procurado para aconselhar, apartar brigas de família e a cada dia sua fama aumentava na região e não demorou muito para começar a sonhar em galgar cargo mais alto. E na eleição seguinte disputou o cargo de vereador sendo eleito com folgada votação.
Por muitos anos aquela região era palco de disputas de divisas entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Firmo passou a ser procurado por autoridades fluminenses para usar seu prestígio em vista a confundir ainda mais. E aproveitou a oportunidade para aumentar seu capital político indo para o lado do estado de seu nascimento. E com juiz de paz procurar levar todos os trabalhos para serem feitos no Capivara.
Firmo se interessa pelo Capivara e organiza comissão para construção da igreja
As casas na povoação do Capivara eram pobres e Firmo passou a se interessar pelo progresso do lugar. A capela da povoação construída de pau-a-pique e muito pequena. Convidou vários fazenderios para uma reunião na fazenda Fortaleza onde propôs a construção de uma igreja grande e bonita, no mesmo padrão das que existiam em Barbacena. A reunião foi ruidosa, uns favoráveis à construção, mas de algo simples, sem muita ostentação. Firmo tomou a palavra:
- Senhores, em breve este lugar vai ser uma grande cidade como a minha querida Barbacena. Será aqui que serão criados os vossos filhos e netos e vão ficar pensando em algo pequeno? Vamos fazer o melhor hoje para deixar isto como herança e para que eles tenham tempo e dinheiro para outras coisas.
- Mas isto vai ficar muito caro.
- Vai ficar mesmo pois vamos ter que contratar um mestre-de-obras competente e tenha feito já trabalhos em outros lugares.
- Nosso povo é pobre, não temos recursos para tanto.
- Claro que os senhores possuem recursos suficientes para este empreendimento. Acham que o progresso ocorrerá sem que coloquem a mão no bolso.
- De início aqui está minha contribuição. – Firmo enfiou a mão no bolso e tirou um maço de notas e colocou na mesa e numa folha anotou seu nome e o valor. – Agora é hora dos senhores fazerem o mesmo.
O primeiro fazendeiro que pegou a lista quase tomou um susto ao ver o número anotado por Firmo. Pegou a pena e anotou um valor menor, mas não muito e todos os presentes subscreveram a lista.
- Senhores, quem não estiver com dinheiro não tem problema. De posse da lista pode deixar que vou visitar com um e pegar dinheiro. Hoje mesmo estarei escrevendo para Barbacena pedindo a indicação de um bom mestre-de-obra e depois convocarei outra reunião e em breve estaremos dando início aos trabalhos de construção. O povo deste povoado é muito pobre para contribuir. Esta primeira lista será para início, depois serão solicitadas novas contribuições.
Os fazendeiros começaram a se levantar e Firmo cumprimentou um a um. Embora não concordassem em muitas coisas, sabiam que ele era um líder e que somente com sua organização, o progresso do Capivara tomaria um rumo.
Em poucas semanas, o mestre-de-obras chegou e o contrato celebrado no cartório com vários representantes da comissão. Voltou depois de mais algumas semanas com ferramentas e ajudantes e em poucos dias deram início ao trabalho da construção da igreja no morro do Capivara. Firmo vinha todos os dias inspecionar a obra e se inteirava de cada detalhe. Queria empregado o melhor material e a melhor técnica. Administrava os recursos com parcimônia e tomava nota de cada centavo gasto e apresentava os balanços à comissão do andamento dos serviços e dos gastos, fazia questão de esclarer todos os pontos.
Firmo contrata Simoneaux
Em uma viagem a Barbacena, Firmo de Araújo conheceu Simoneaux, um francês já bastante adaptado ao modo de viver brasileiro, mas não tinha perdido o sotaque. Ele impressionou Firmo com seu conhecimento de armas e política. Gabava-se de ter sido pirata e chegou a ser preso no Rio de Janeiro de onde fugiu. Foi parar em Barbacena ficando sabendo que nesta cidade existia muitos cidadãos desta mesma nacionalidade, onde pretendia arrumar trabalho. Firmo gostou de seu jeito reservado e gostou também de seus conhecimentos táticos, o ajudariam na sua carreira política no Capivara, visto que os inimigos a cada dia aumentavam. E sua pretensão de ser um chefe político poderoso com atuação na região.
- Senhor Firmo não conheço este Capivara, mas estou disposto a ir servi-lo. – Disse Simoneaux com a mão segurando os botões do paletó.
- Seria uma honra tê-lo em meu grupo, temos muito trabalho pela frente.
- Isto não me assusta, estou acostumando a trabalhos especiais e uma boa recompensa me estimula mais ainda. – Disse, piscando os olhos para Firmo.
- Ofereço-lhe estadia e alimentação no Capivara e mais uma boa recompensa financeira.
Simoneaux levantou e pegou na mão de Firmo.
- Já estamos conversados, quando começo?
- Estou de partida amanhã à tarde. Aproveite o resto do dia para acertar suas coisas em Barbacena.
O ex-pirata saiu rapidamente do bar. Firmo levantou-se pegou sua bengala e o chapéu e saiu para a rua seguindo na direção da casa de seus pais.
Firmo inspeciona as obras da ferrovia
Os trabalhos da ferrovia avançavam para o Capivara e a turma de abertura já estava a 1 légua e meia do Arraial Novo. Guilherme Tell estava suado e espantava os mosquitos com uma mão e a outra segurava papéis onde anotava tudo referente à obra. O engenheiro Peter Smith andava de um lado para outro inspecionando tudo e quando algo não estava do seu jeito passava a gritar e quando sua histéria atingia o máximo, todos os palavrões eram em inglês. Os escravos acostumados a tomar chicotadas por qualquer motivo, continuavam trabalhando impassíveis e ouvir aqueles gritos dos quais não entendiam nenhuma palavra.
A comitiva de Firmo de Araújo aproximou-se da obra, o engenheiro nem deu atenção e Guilherme Tell o atendeu com toda a educação.
- Senhor a devemos esta honra. – Disse com forte sotaque inglês.
- Bom dia senhor, qual sua graça?
- Guilherme Tell, o apontador da ferrovia. – Disse estendendo a mão.
Firmo desceu do cavalo e o comprimentou.
- Vim olhar a quantas andam os trabalhos da construção desta importante ferrovia.
- Está indo bem, em breve já estaremos com os trilhos no Capivara.
- Isto é muito bom, e ela trará muito progresso para nossa região.
- Senhor Guilherme fiquei sabendo de que está gostando muito do nosso burgo. – E aproximando-se – E me disseram também que já até um rabo-de-saia por aqui.
- Sim, é verdade.
- E ao terminar as obras irá embora ou pensa em fixar por aqui?
- Ainda não sei, Senhor Firmo.
- Tive boas referências sobre o senhor, se pensar em ficar, me procure. Estendeu a mão e despediu-se de Guilherme.
A inauguração da estação de trem do Capivara
A locomotiva chegou apitando e espalhando poeira e, o dia seria festivo no Capivara. Muitas pessoas tinham vindo das fazendas para aquele grande acontecimento, a inauguração da estação do trem. Firmo de Araújo com o paletó fechado, o dia estava frio, observava tudo, afinal ele tinha sido o grande organizador. Na mão levava algumas folhas de papel e de vez em quando lia. Fez um silêncio e ele discursou por uns quinze minutos enaltecendo a companhia que estava executando aquela obra e seus altos funcionários, quase todos ingleses. Disse que aquele dia seria um marco para este povoado, e daí em diante o progresso chegaria e de trem. Foi muito aplaudido e agradeceu ao meio de uma salva de palmas. Firmo cortou a fita e estação estava inaugurada e a população pode conhecer as instalações: a bilheteria, o telégrafo e tudo cheirava a novo. Todos estavam emocionados e entusiasmados de que tudo aquilo estivesse acontecendo no pequeno Capivara e Firmo andava de um lado para outro, admirando tudo. E pensava que sua carreira política cresceria nas próximas eleições.
Em seguida os chefes, engenheiros e outros altos funcionários caminharam para o hotel onde estava sendo preparado um banquete para comemorar a chegada dos trilhos até o Capivara.
Firmo sentou-se na cabeceira da mesa e ao ver todos sentados, levantou-se, pegou um cálice e ergueu.
- Quero fazer um brinde ao senhor John Smith e seu escriturário Guilherme Tell pelos seus enormes serviços.
Brindaram e em seguida John Smith já um pouco vermelho pois o seu café da manhã era uma boa dose de uísque.
- Agradeço os elogios. E quero dizer que para que vá vou lembrar do povo desta região pela sua hospitalidade e o apoio que Firmo de Araújo nos prestou nas horas que mais necessitamos.
Muitos aplausos e Firmo ficou muito lisongeado com aqueles elogios rasgados do engenheiro, afinal toda vez que visitava as obras, pensava que ele não gostava. Na realidade John Smith estava aos poucos deixando de ser um pouco britânico e mais brasileiro.
Ao terminar o almoço, Guilherme Tell pediu para ter uma conversa em particular com Firmo.
- Senhor, lembra-se daquele dia em que ofereceu para me ajudar a fixar nesta terra?
- Claro que lembro senhor Guilherme. – Respondeu Firmo.
- Estou pensando em me casar e precisava de uma colocação já que as obras da ferrovia estão no fim.
- Senhor Guilherme, acho que tenho um lugar. Vá amanhã na parte da manhã em minha fazenda para conversarmos melhor.
Firmo dirigiu ao cabine e pegou seu chapéu e bengala e partiu. Ao sair na rua, caia uma fina garoa. Imediatamente seus capangas trouxeram seu cavalo e dirigiram todos para a fazenda Fortaleza.
A construção da ferrovia de Recreio-Capivara
O trabalho de construção da ferrovia era duro. Muitos ficavam doentes e sempre havia briga entre os trabalhadores contratados. Os escravos faziam o serviço mais pesado e bruto. E os brancos contratados faziam os arremates, testavam todos os detalhes. E vários homens armados iam à frente desbravando e enfrentando bichos e principamente índios, que na maioria das vezes fugia assustado com o barulho e com os tiros que disparavam para o alto.
Muitas vezes alguns índios em grupos atacavam as equipes e eram repelidos à tiros, muitos morreram na mata. Quando começaram a funcionar as primeiras locomotivas, os homens brancos assustavam aos índios dizendo que aquele enorme bicho que vinha poderia ir atrás deles no meio da mata. E ao ouvir o barulho de “tof-tof-tof” corriam desesperadamente para o meio da matas e ficavam escondidos.
Firmo em Cataguases à busca de informações para o clube republicano
Pelo jornais e nas reuniões o movimento republicano começou a empolgar, principalmente os mais jovens. Firmo de Araújo também admirava o movimento e tinha receio de que a abolição dos escravos arruinasse a economia da região e sempre ia nas reuniões em Leopoldina e Cataguases.
- Caro Firmo a monarquia não resiste mais. O imperador está velho e sente o peso do governo em suas costas.
- Mas ele fala em renunciar ou algo parecido.
- Claro que não, quer continuar mantendo seus privilégios. Mas vai mudar em breve com a vinda da república. Haverá eleições e os mais capacitados tomarão lugar na administração. Novos tempos vem por aí. Veja as ferrovias, com a iniciativa do capital, principalmente dos ingleses, é possível vir do Capivara a Cataguases em poucas horas, coisa impensada anos atrás.
- Isto é verdade, não imagina o quanto o Capivara está progredindo nestes últimos anos. A produção aumenta a cada dia e a vila com obras por toda a parte. A sédes daas fazendas sendo reformadas. Os moços estão indo estudar em outras cidades e estamos numa fase de muita prosperidade.
- E com a república isto vai melhorar ainda mais. E você caro Firmo precisa organizar um clube repubicano no Capivara e quando tomarmos o governo você poderá exercer todo o poder para trazer mais progresso ao seu Capivara.
- É para isto que estou aqui em Cataguases, mas ainda um pouco de receio pela receptivadade dos fazendeiros e, como os senhores mesmo sabem, na minha região eles são escravocratas.
- Mas aí que está a sua oportunidade de mostrar-lhes sua liderança, assumindo esta posição e te digo com certeza, as coisas irão mudar e não vai demorar muito. E a respeito da mão-de-obra, os republicanos estão pensando em tudo, vamos incentivar a imigração de estrangeiros. Vamos importar trabalhadores da Europa e da Ásia.
- Mas esta para mim é nova. Não entendi bem.
- Firmo, estamos em entendimentos com os clubes no Rio de Janeiro e São Paulo para trazermos trabalhadores livres e recebendo salários. E pelo que estamos vendo ficará mais barato, pois o café está cada vez mais valorizado. E este trabalhador apesar de receber, vai custar mais barato do que manter um negro, onde você tem que lidar com a indolência, alimentá-lo, vesti-lo, fornecer moradia e ainda cuidar quando fica doente. E além disso, o negro não consome, inviabilizando a instalação das indústrias, como na Inglaterra.
- Voltando ao Capivara, vou reunir os fazendeiros e expôr estas idéias.
- Aproveita esta reunião e monta um clube republicano. Posso enviar-lhe pelo correio material de propaganda e jornais. E quando a república vir a ser instalada, você Firmo, será o líder de sua localidade para trazer ainda mais progresso.
- Será muito bom, pois há anos venho lutando para o crescimento do Capivara e se a república tornará isto mais fácil, já posso dizer que sou um republicano.
- E lá na sua região pode contar com o apoio de um companheiro nosso, o Dr. Costa Reis.
- Não tenho muito conhecimento com ele, apesar de saber que vem fazendo um bom trabalho em sua fazenda e fazendo atendimento médico às pessoas da proximidade
- Sim, o Dr. Costa Reis é um dos nossos e sem dúvida pela sua capacidade intelectual será um dos nossos representantes na Câmara Estadual.
- Qualquer dia desses, quero fazer uma visita ao Dr. Costa Reis e conversar sobre o movimento republicano.
- Vou enviar-lhe uma carta e este contato será mais fácil.
- Obrigado, pela sua colaboração.
Firmo reúne os fazendeiros do Capivara
Dias depois, Firmo convocou os principais fazendeiros para uma reunião em sua fazenda e comunicou que queria discutir sobre o movimento republicano que prometia mudar os destinos da política e da economia e isto seria de interesse de todos eles. O fazendeiro mais entuasmado, senhor Bernardo Magalhães, pediu a palavra e fez um discurso veemente e empolgante. Os fazendeiros tinham poucas informações sobre o movimento que estava surgindo principalmente nas capitais e gestando nas faculdades. Passaram a tarde discutindo sobre estes assuntos, quando Firmo propôs a fundação de um clube, conforme sugerido por Pedro Nicácio, ao que todos concordaram.
O jovem Jeremias Freitas participou da reunião a convite de Firmo e atuou como secretário e entusiasta deste movimento e apesar da idade, sempre estava orientando e sugerindo idéias e mudanças pelos livros que lia. A ata ficou pronta e passada para assinarem e o primeiro, Bernardo Magalhães, seguido dos demais.
Após a fundação do clube ocorriam reuniões quase todo mês e liam avidamente o material recebido e discutiam sobre os mais diversos asssuntos, sempre sobre a liderança de Firmo que a cada dia se tornava mais republicano. E pela disseminação dessas idéias e o Capivara crescendo, recebendo pessoas de outras localidades quase todos os dias.
A publicação da “Gazeta do Capivara”
Começou a ser publicado no povoado um jornal, impresso numa rudimentar tipografia que ficava em uma casa próxima à Rua da Pedreira e divulgava as novas do movimento republicano e notícias como brigas, assassinanatos, casamentos e falecimentos e recebeu como nome “Gazeta do Capivara”. E quase todas as matérias escritas por Francisco Bezerra, baiano, que vivia de paletó e gravata e passava a maior parte do dia na rua central em um bar jogando bilhar, tomando umas e conversando com as pessoas para saber das notícias para publicar no jornal.
Firmo e suas opções amorosas
Firmo não época de estudava em Pádua, frequentava os prostibulos e nunca namorava e seus colegas tiravam sarro por este compartamento até que um dia, sério e muito veemente apresentou sua versão, contando que anos atrás tinha se apaixonado por um moça de Barbacena e tanto sua família como a dela foram contra o relacionamento e depois disso, tomou a decisão de jamais se casar, pois tinha amado somente uma vez.
Pela sua importância como fazendeiro e líder político, quase sempre tocavam no assunto de não casar e davam indiretas dizendo que tinham filhas e sobrinhas no ponto para se casar e que fariam o maior gosto e, Firmo sempre se esquivava. Aos poucos foi inevitável, continuar escondendo seu relacionamento com mulheres de origem mais humilde, sempre filhas de colonos da sua fazenda e outros.
- Prefiro estas moças do que a filha destes fazendeiros, cheia de não me toques. Quando na flor da idade são graciosas, depois que casam ficam rancorosas e autoritárias. E estas moças não. Sempre dispostas a dar carinho e amor.
- Disso você tem razão, Firmo.
- E daqui uns meses vai nascer meu primeiro filho e se fôr homem, vai se chamar Firmo.
Firmo é ridicularizado pela “Gazeta da Palma”
Na “Gazeta da Palma” saiu um artigo com pseudônimo de “O Monarquista” e ironizava a criação do clube no Capivara e a prosmicuidade dos relacionamentos do chefe, Firmo de Araújo. Este ficou muito irritado pelas críticas e mais ainda pelo autor se esconder. Chamou seus capangas pediu para descobrissem que era aquela canalha. Tarde da noite, Francisco Bezerra chegava na sua casa, a lua esta clara e ele ébrio declamava poesias pela rua, quando se assustou com a aproximação de dois cavalheiros.
Percebeu o perigo e tentou entrar por uma viela, mas foi alcançado e em segundos viu-se sobre a mira de armas e os homens queriam o nome de quem escreveu aquele artigo infame publicado no jornal daquele dia e mesmo depois de tomar coronhadas e muitas ameaças, não revelou.
Firmo conversar com o Dr. Costa Reis
Firmo acompanhado de seus fiéis escudeiros Simoneaux e Guilherme Tell embarcaram no trem para o Arraial Novo e, ia conversar com o Dr. Costa Reis à respeito do partido republicano. Ao desceram na estação, empregados os aguardavam com cavalos para seguirem a fazenda Aliança. Firmo de Araújo montou e saiu na frente, sendo seguido por seu capangas e empregados do médico. Os passageiros observaram aquela figura e ficaram pensando se era verdade todos aqueles boatos que circulavam a respeito de Firmo.
Ao chegarem, o Dr. Costa Reis estava na varanda, fazia muito calor. Firmo subiu as escadas e depois de cumprimentar o médico, sentou-se e passaram a falar do clube republicano e dos projetos de transformar o Capivara numa cidade. E Firmo observou a vista do Rio Pomba que se tinha da varanda da fazenda e lembrou-se anos atrás da conversa que tivera com o Felismino Rocha.
- Dr.Costa Reis estou admirado pela beleza de sua fazenda.
- Obrigado, Firmo, gosto muito deste lugar e estou fazendo o possível para trazer o progresso para cá.
- No Capivara o clube já está organizado e quando puder, gostaria que participasse de uma reunião conosco. Sua experiência política e seus conhecimentos de um governo republicano em muito nos ajudaria a fortalecer nossas posições.
- Podemos marcar para o próximo mês e ficarei muito contente em colaborar com sua luta no Capivara.
- Dr. Costa Reis a única coisa que não gostei foi de ser criticado por aquele jornalista baiano que fez insunuações nada lisonjeiras à respeito de mnha pessoa.
- Isto é uma coisa que temos de aprender a conviver num governo republicano. As pessoas são livres para pensar, dizer e escrever.
- Aceito críticas à respeito do meu trabalho como político, mas ir para o lado pessoal não aceito e como já deve estar sabendo, mandei-lhe dar uma sova.
- Firmo, não concordo com seus métodos, mas respeito suas opiniões. É preciso ter muito cuidado.
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